A evolução da tecnologia ao passar das décadas permitiu uma gama de oportunidades para o desenvolvimento e aprimoramento de diversos setores mundiais, dentre eles se destaca a Engenharia Civil. Através desse aporte, a produtividade alcançou novos patamares dentro da construção e desencadeou uma nova geração de métodos construtivos que englobam maior qualidade e segurança. Assim, sob um importante papel na receita de desenvolvimento do Brasil atual, a construção civil reencontrou sua rota de progresso nos processos produtivos e iniciativas ligadas a revisão preventiva de equipamentos e ao treinamento de colaboradores.
A atuação da construção civil no mercado tornou-se cada vez mais latente, formal e consolidada. O setor movimentou, segundo o IBGE, em 2017, cerca de 9.9% do Produto Interno Bruto brasileiro, além de empregar 10 milhões de trabalhadores. Recentemente, o SINDUSCON-SP juntamente à Fundação Getúlio Vagas (FGV), mediu a aplicação da produtividade da área, e os resultados foram animadores, apesar, de o histórico mostrar baixo investimento na produtividade, houve uma evolução de 20,6% nacionalmente desde 2013.
Contudo, a metodologia que preza o menor desperdício do tempo hábil ainda é um gargalo, pois não adianta ter uma empresa produtiva em um ambiente improdutivo. O investimento interno somente será eficaz se vier acompanhado de um ambiente externo promissor e rentável. Logicamente, a procura por produtividade significa alcançar o objetivo de produzir mais e melhor a partir de uma combinação factível entre os recursos. Nesse viés, o maior desafio é promover condições de viabilidade, para sairmos da era glacial na digitalização de serviços e processos, como apontou o índice de digitalização da MGI (Mickinsey Global Institute), e alavancarmos rumo a inserção da produtividade e gestão de qualidade completa no canteiro de obras.
No entanto, enquanto outras áreas manufaturadas evoluem no quesito logístico e produtivo, a Engenharia Civil sob um todo, ainda apresenta lacunas nesse campo. Fatores macros como: o intenso crescimento econômico, a grande formalização das empresas e mão de obra, a forte expansão de investimentos em capital físico e a qualificação crescente dos colaboradores, corroboram para as deficiências gerenciais ao longo da execução da obra, de indicadores de qualidade, logística, organização funcional, eficiente, e, sobretudo, o controle da produção. Tais fatores cooperam bastante no aumento do desperdício nos canteiros e baixa produtividade.
Na Engenharia de Fundações não é diferente, considerada vital em um empreendimento, essa fase precisa de maior atenção e controle tecnológico constante. O segredo para uma alta produtividade nas execuções de fundações está na mão de obra e gestão de qualidade.
Controle tecnológico = Produtividade crescente
Quando se trata de uma construção, um prédio ou uma casa todo cuidado é pouco, afinal, em fundações os detalhes são os que fazem a diferença. O estágio de execução carece por ser minucioso e checado todos os dias, com aferições e medições tabeladas; portanto, a primeira ação é fazer a leitura detalhada do projeto, assim como a análise das interferências que venham a ocorrer na fundação. Isso porque, parte crucial da otimização no controle tecnológico, está na análise completa das interferências do estudo de sondagem geotécnica, sendo elas fixas (equipamentos) ou flexíveis (mão de obra), então cabe ao líder e colaboradores da obra a busca por soluções eficientes.
Assim, desde a logística de energia, água, até o horário de trabalho extra dos colaboradores, tudo deve ser tomado nota, principalmente quando são fundações profundas. Além disso, integrada à logística de todo o processo, temos a gestão do consumo e aplicação de materiais para a fundação (seixo, areia, aço, cimento…) que, dependendo da situação, ocasionam “sobreconsumo” no canteiro de obras. Ademais, outras atitudes permitem maior produtividade na etapa de projeto, como organizar a mobilização entre maquinários e materiais e a planilha checada de todos os equipamentos e veículos de transportes usados no período, basicamente, um “casamento entre a mobilização e os materiais da obra”.
Por fim, nesse primeiro checklist não pode faltar a visita da equipe técnica ao local da obra antes da execução. Por meio da vistoria, podemos saber se o terreno está de acordo com o levantado em planta e pronto para receber o equipamento e materiais necessários à execução da fundação.
Execução e variáveis na produtividade
Durante a execução, dois itens são vitais para o sucesso produtivo: o consumo de materiais e os investimentos nos colaboradores. São chaves capazes de suplantar o déficit gerencial na produtividade, ainda corriqueiro na Construção Civil. Em relação ao consumo de materiais, apesar de variar pouco, acontecem situações rotineiras de sobreconsumo, variante em mais ou menos, dependendo do tipo de fundação.
- Hélice profunda: esse tipo de fundação tem alto sobreconsumo, de 20 a 30% a mais de concreto porque quando ele é injetado no furo da estaca, a ação força as paredes e provoca um volume maior de concreto do que a estaca;
- Estaca raiz: nesse caso, o sobreconsumo é em argamassa, que, quando injetada na estaca raiz com pressão de 2kg/cm², entra na parede do furo;
- Estaca pré-moldada: não aparece o sobreconsumo pois é uma estaca feita de concreto armado, contudo, ela pode diminuir o comprimento do que o projetado na sondagem e projeto de fundação.
Obs: em todos os tipos de estacas, tem que ser aplicado um controle rigoroso de concreto e argamassa.
Considero essas variáveis de consumo, previsíveis, porém, para ter realmente um bom ganho em uma obra de fundação, é preciso “mexer” na mão de obra, o elemento flexível do canteiro. O modo mais certeiro é motivando-os, usando a única linguagem que conhecem, a renda – dinheiro –. Por isto, o ganho de produtividade na engenharia de fundações com certeza é o investimento e aposta no ser humano.
Como líder da obra de fundação, é crucial adotar estratégias para poder motivar a produtividade desse pessoal, mas como? A primeira forma é medindo o índice de produtividade de cada colaborador todo dia para poder aplicar o “bônus remunerativo” a esse colaborador. A segunda é utilizar uma ficha de controle (planilha) que tabela todos os processos previsíveis e flexíveis do período. Uma parte será destinada ao levantamento dos materiais consumidos – já abordado com profundidade anteriormente – e a outra contabilizará a bonificação a mais por aumento de produtividade, geralmente contado por unidades de estacas produzidas.
“Quer mais serviço? Então procure estratégias que felicitem os colaboradores, conforme as metas preestabelecidas de produtividade”. A Engenharia Civil não é movida sozinha, não é uma ilha, mas uma contribuição de todos rumo ao melhor resultado físico para a sociedade.
Prof. Eng. João Neto Franco
Graduado em Engenharia Civil Pela UFPA, Especialista em Gestão de Negócios pela WHARTON – Pensilvânia/USA, especialista em Desenvolvimento de Executivos pela USP, Especialista em Geotecnia pela UFOP-MG, Professor do Instituto Federal do Maranhão – IFMA e Diretor Técnico da empresa Franco Engenharia e Geotecnia.